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Voluntários que resgataram armas em vez de crianças na enchente processam a Taurus e a União por danos morais

Grupo de surfistas atuava no resgate de vítimas e animais em Porto Alegre quando foi enganado com promessa de salvar crianças ilhadas; pedido de indenização é de R$ 1,27 milhão

Seis voluntários civis que participaram de ações de resgate durante as enchentes no Rio Grande do Sul em 2024 ingressaram com uma ação judicial contra a fabricante de armamentos Taurus e a União. Eles afirmam ter sido enganados com a promessa de que iriam salvar crianças ilhadas no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, mas acabaram sendo utilizados para retirar cerca de três mil artefatos bélicos do terminal alagado.

A ação pede uma indenização por danos morais no valor total de R$ 1.270.800, o equivalente a 150 salários mínimos para cada um dos envolvidos. Os autores do processo alegam que foram expostos a riscos graves sem treinamento ou equipamentos de proteção, como coletes à prova de balas. Eles também dizem que não sabiam que a operação envolvia armamento e que, ao perceberem, já estavam sendo filmados e identificados de forma equivocada como agentes da Polícia Federal (PF) em uma reportagem exibida no Fantástico, da TV Globo.

A defesa dos voluntários afirma que a Taurus mentiu sobre o objetivo da ação e que houve coação e constrangimento por parte de representantes da empresa. “Faltou lealdade, informação e assistência no episódio”, dizem os advogados, que também pedem a atuação do Ministério Público Federal, considerando se tratar de um problema de segurança pública e nacional.

A Taurus Armas S.A. nega envolvimento direto com os voluntários e afirma que a responsabilidade pela segurança do armamento era da concessionária Fraport e da Polícia Federal, já que as armas estavam em processo de exportação. A empresa afirma ainda que contratou empresas terceirizadas especializadas no resgate de materiais sensíveis e que todos os envolvidos estavam escoltados, não havendo, portanto, risco.

A União também é alvo da ação judicial. Os voluntários alegam que a PF foi omissa ao permitir que civis não identificados transportassem o arsenal. Segundo apuração do UOL, os agentes federais não checaram a documentação do grupo, permitindo que pessoas sem preparo técnico ficassem a sós com armas de fogo.

A Advocacia-Geral da União (AGU), por sua vez, nega responsabilidade e afirma que a atuação da PF se limitou à proteção do terminal e não ao transporte das armas. “A União, que tinha o dever de proteger a área do terminal aeroviário evitando saques, não seria a responsável pelo transporte dos materiais ou armazenamento dos mesmos em outro local”, declarou a AGU em nota enviada à Justiça.

A operação polêmica começou com um contato via WhatsApp. De acordo com Nicolas Vedovatto, um dos voluntários, o grupo foi acionado por um homem identificado como Michel Rodrigues, que teria relatado a existência de cem crianças ilhadas em uma área sigilosa do aeroporto. A localização não foi revelada para evitar congestionamento de barcos. Rodrigues, por sua vez, afirma também ter sido vítima e aponta um suposto líder da operação, Leonardo Godoy, que se apresentava nas redes sociais como empresário e chefe de resgates.

O grupo de voluntários, formado por surfistas com experiência em navegação, atuava há cerca de dez dias nos salvamentos com barcos, equipamentos próprios e até brinquedos para acalmar crianças durante os resgates. “Fomos enganados. A gente achava que ia salvar vidas e acabou ajudando a carregar armas, sem saber”, disse um dos envolvidos.

O processo tramita no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, e aguarda manifestação das partes.

Fonte
com informações d'O SulFoto: Reprodução

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