
A partir de hoje, o Brasil inicia uma mudança significativa em seu Programa Nacional de Imunizações (PNI): a famosa vacina oral contra a poliomielite, popularmente conhecida como a “vacina da gotinha”, será substituída por uma dose injetável da vacina inativada poliomielite (VIP). A decisão do Ministério da Saúde, anunciada em julho de 2023, segue recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e reflete novas evidências científicas sobre a maior eficácia e segurança do imunizante injetável.
Com essa mudança, o esquema vacinal contra a poliomielite será composto exclusivamente pela vacina injetável, com aplicações aos 2, 4 e 6 meses, além de uma dose de reforço aos 15 meses de idade. Dessa forma, o calendário de vacinação infantil contra a pólio fica organizado da seguinte maneira:
- 2 meses: 1ª dose
- 4 meses: 2ª dose
- 6 meses: 3ª dose
- 15 meses: reforço
Histórico da Vacina em Gotinha
Introduzida no Brasil na década de 1970, a vacina oral de poliomielite, desenvolvida por Albert Sabin, foi essencial para o controle da poliomielite no país. Ela era composta por um vírus atenuado, capaz de se multiplicar no intestino e induzir imunidade sem causar a doença. Essa imunidade ajudava não só a proteger as crianças vacinadas, mas também contribuía indiretamente para a proteção da comunidade, já que o vírus atenuado excretado podia imunizar outras pessoas.
No entanto, a permanência do vírus atenuado no ambiente permitiu, em raros casos, que ele sofresse mutações e provocasse uma forma da doença conhecida como poliomielite derivada do vírus vacinal (VDPV). Por isso, em um cenário de baixíssima circulação do poliovírus selvagem, a recomendação global é substituir a vacina oral pela injetável, que é composta por um vírus inativado e não apresenta o risco de mutação.
Por que a Mudança?
Atualmente, o poliovírus selvagem permanece endêmico apenas no Afeganistão e Paquistão, o que diminui a necessidade da vacina oral, cuja principal vantagem era imunizar amplamente em ambientes de grande circulação viral. No Brasil, o último caso de poliomielite foi registrado em 1989, e a cobertura vacinal em 2023 foi de 86,55% — abaixo do ideal de 95%, considerado seguro pela OMS.
Com essa mudança, o objetivo é eliminar qualquer risco de VDPV e manter a imunização em alta, alinhando o Brasil a países como Estados Unidos, Inglaterra e outras nações europeias, que já adotam a vacina inativada em seus programas nacionais de imunização.
A Segurança da Vacina Injetável
A vacina inativada poliomielite é segura e conhecida no Brasil, sendo amplamente utilizada no PNI há anos. Além de evitar o risco de VDPV, ela tende a causar menos reações adversas: enquanto a vacina oral podia ocasionar sintomas gastrointestinais leves, a versão injetável geralmente provoca apenas dor ou vermelhidão no local da aplicação.
Segundo a pediatra Socorro Martins, presidente da Sociedade Paraibana de Pediatria, o novo esquema vacinal simplifica o processo ao exigir uma dose a menos para garantir a proteção completa. “Estamos ganhando segurança e eficiência com essa mudança, e é essencial que os pais levem seus filhos para vacinar”, afirma.
A Importância de Manter a Imunização
Embora o vírus selvagem esteja cada vez mais restrito a regiões específicas do mundo, ainda há risco de importação, especialmente em áreas com baixa cobertura vacinal. “Precisamos manter nossas crianças protegidas para que o poliovírus não volte a circular no Brasil e provoque casos de paralisia infantil”, alerta a infectologista Rosana Richtmann, consultora em vacinas.
Para tranquilizar a população e fortalecer a campanha de imunização, o personagem Zé Gotinha, ícone das campanhas de vacinação, continuará atuando em prol da conscientização sobre a importância das vacinas e a prevenção de doenças.
A aposentadoria da vacina em gotinha representa um novo passo na luta contra a poliomielite, agora com a segurança reforçada de uma vacina que, além de eficiente, atende às exigências de um cenário global em constante evolução.