
A contaminação de seis pacientes com HIV após transplantes de órgãos no Rio de Janeiro está sendo investigada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ministério Público. A revelação foi feita pelo diretor-geral de conteúdo do Grupo Bandeirantes de Comunicação, Rodolfo Schneider. Segundo informações apuradas, exames de sangue dos doadores apresentaram resultados falsamente negativos para o vírus, permitindo que os órgãos fossem transplantados.
Os exames de triagem foram realizados pela empresa PCS Laboratórios, localizada em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O laboratório havia sido contratado emergencialmente pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro em dezembro de 2023, devido à sobrecarga do Hemorio, responsável pelos exames de transplantes no estado.
A situação veio à tona no último dia 10 de setembro, quando um paciente, que havia recebido um órgão transplantado, testou positivo para HIV após apresentar sintomas neurológicos. Investigações mais aprofundadas revelaram que outros dois pacientes, que receberam órgãos do mesmo doador, também estavam infectados. Desde então, o número de casos subiu para seis, todos confirmados pela Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro.
Nesta quinta-feira (10), agentes da Anvisa visitaram o laboratório PCS e descobriram que a unidade não possuía kits para a realização dos testes necessários e tampouco apresentou documentos que comprovassem a compra desses itens. Isso levantou suspeitas de que os exames poderiam não ter sido realizados, e os resultados falsos negativos podem ter sido forjados. A Fundação Saúde, órgão vinculado à Secretaria de Saúde do estado, foi responsável pela contratação emergencial do laboratório.
Entre dezembro de 2023 e setembro de 2024, mais de 500 transplantes foram realizados com exames conduzidos pelo PCS Laboratórios. Agora, todos os pacientes que passaram por transplantes nesse período estão sendo reexaminados. A previsão é de que essa nova rodada de testes seja concluída na próxima semana.
A situação, considerada um “evento adverso grave” pelos especialistas, é inédita no Brasil, que realiza transplantes desde 1964. Em resposta ao caso, centrais de transplantes de todo o país se reuniram para discutir medidas de segurança e evitar que tragédias como essa se repitam.
A investigação continua, e o Ministério Público pretende apurar as responsabilidades pela contratação do laboratório e pelos danos causados aos pacientes. A expectativa é de que novas medidas sejam tomadas à medida que mais informações forem reveladas.