
As projeções para a inflação deste ano no Brasil ultrapassaram o teto da meta, com o mercado financeiro estimando o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 4,55%, conforme o Boletim Focus divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira (28). Esse é o quarto aumento consecutivo na previsão e a primeira vez que a expectativa supera o teto da meta para 2024, estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 4,5%.
O cenário atual marca um novo alerta econômico: se as projeções se confirmarem, este será o primeiro estouro da meta de inflação desde 2022, quando o índice fechou em 5,79%. Embora a meta central seja de 3%, o índice é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% e 4,5%. A meta de inflação para 2025 também é de 3%, com o mesmo intervalo de tolerância, e já apresenta uma expectativa de alta: as previsões indicam uma inflação de 4% no próximo ano.
PIB e Juros Seguem em Alta
Além das expectativas inflacionárias, o mercado financeiro revisou a projeção de crescimento do PIB para 2024, agora estimado em 3,08%, uma leve alta em relação aos 3,05% previstos anteriormente. Para 2025, as expectativas permanecem em um crescimento de 1,93%.
Em resposta às pressões inflacionárias, o Banco Central iniciou no mês passado um ciclo de alta nos juros, elevando a Selic para 10,75% ao ano, e o mercado aposta que a taxa de juros encerrará 2024 em 11,75% ao ano, com possibilidade de novos aumentos nas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária). Para 2025, a projeção da Selic é de 11,25% ao ano.
Influências Externas: Seca e Conta de Luz
As expectativas inflacionárias também foram influenciadas pela recente estiagem, que afetou a produção de alimentos e elevou os preços de produtos básicos. Esse impacto foi confirmado no IPCA-15, considerado uma prévia da inflação, que subiu mais do que o esperado, acumulando 4,47% nos últimos 12 meses. A perspectiva de uma redução na bandeira tarifária da energia elétrica para novembro, entretanto, pode aliviar a pressão inflacionária. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou a troca da bandeira vermelha 2 pela bandeira amarela, o que reduzirá a taxa extra na conta de luz de R$ 7,88 para R$ 1,89 por 100 kWh.
Pressão Fiscal e Ações Futuras
Para o especialista em política monetária Maurício Pontes, o impacto das contas públicas no índice inflacionário é uma preocupação central, que poderá demandar do Banco Central um ciclo de ajustes ainda mais intenso para 2025 e 2026. A manutenção da Selic em patamares elevados e a continuidade de medidas de ajuste fiscal são vistas pelo mercado como essenciais para conter a inflação e evitar novos desvios na meta.
Com um cenário de incertezas, o aumento na inflação e as revisões das expectativas para a economia refletem as condições desafiadoras para o Banco Central, que se vê pressionado a administrar um conjunto de variáveis macroeconômicas delicadas e a sustentar o compromisso com a meta inflacionária, num momento em que o poder de compra da população já é impactado pela alta nos preços.