
O programa Fies Social, criado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2024 com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino superior para estudantes de baixíssima renda, vem sendo alvo de críticas por impor altos custos a alunos beneficiados.
A promessa de financiamento integral da graduação esbarra em um teto de R$ 10 mil mensais, insuficiente para cobrir integralmente cursos como medicina, cujas mensalidades ultrapassam facilmente esse valor.
O resultado é que estudantes em situação de vulnerabilidade econômica acabam tendo que arcar com valores que superam os R$ 2 mil por mês, tornando inviável a permanência no ensino superior.
Promessa e realidade
Destinado a estudantes com renda familiar per capita de até meio salário mínimo (R$ 759), o Fies Social foi apresentado como uma solução para ampliar o acesso ao ensino superior. A ideia central do programa é que o governo financia integralmente as mensalidades ao longo do curso, e o estudante começa a pagar a dívida após a formatura.
No entanto, o teto de R$ 10 mil mensais compromete a efetividade do programa, especialmente para cursos com mensalidades mais altas. Em medicina, por exemplo, é comum que os valores superem R$ 12 mil. A diferença, chamada de “coparticipação”, precisa ser paga mensalmente pelo aluno, que, em muitos casos, já enfrenta dificuldades financeiras para se manter.
Estudantes se veem obrigados a trancar cursos
A estudante Ana Silva, de 24 anos, é um dos exemplos de como a limitação do Fies Social tem impactado a vida acadêmica dos beneficiários. Aprovada no segundo semestre de 2024 em uma faculdade de medicina em Salvador (BA), ela ingressou no curso com a expectativa de que não teria despesas adicionais. No entanto, com uma mensalidade de R$ 12.553,60, precisou arcar com R$ 2.553,60 por mês.
“No início, eu e meu marido usamos todas as nossas economias para pagar a coparticipação. Mas, com o reajuste da mensalidade para R$ 14.037 em 2025, o valor subiu para mais de R$ 4 mil. Não há como continuar assim”, relata Ana, que trancou a matrícula e suspendeu o contrato do Fies.
Casos como o de Ana se repetem em todo o país. Lorena Alves, de 21 anos, também viu seu sonho de estudar medicina se desfazer ao descobrir que o financiamento não era integral. “Não é um programa social de verdade. Como uma pessoa de baixa renda pode pagar R$ 3 ou R$ 4 mil por mês?” desabafa.
Tentativa de se manter no curso a qualquer custo
Diante do impasse, alguns estudantes buscam alternativas para cobrir os altos custos. Letícia Brandão, 28 anos, mãe solo e beneficiária do Bolsa Família, decidiu vender doces e salgados para conseguir pagar os R$ 980 mensais de coparticipação exigidos em sua faculdade.
“É constrangedor desistir depois de tanto esforço. O Fies Social me deu uma chance, mas ao mesmo tempo impôs um desafio financeiro muito grande”, afirma Letícia.
Governo avalia revisão do teto de financiamento
Em resposta às críticas, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão vinculado ao MEC, afirmou que o teto de financiamento foi definido para garantir a sustentabilidade do programa e evitar o superendividamento dos estudantes. No entanto, reconheceu que o Comitê Gestor do Fies (CG-Fies) está analisando a possibilidade de revisar o limite de R$ 10 mil para alinhá-lo à realidade dos custos acadêmicos.
“A expectativa é que a proposta seja avaliada ainda no primeiro bimestre de 2025”, informou o FNDE.
Faculdades podem conceder descontos, mas não são obrigadas
Uma portaria do MEC, publicada em março de 2024, permitiu que faculdades privadas ofereçam descontos para estudantes do Fies Social, sem a necessidade de aplicar a redução a todos os alunos. No entanto, a medida é facultativa e, até o momento, poucas instituições optaram por oferecer o benefício.