
O embate entre o Grupo Carrefour e os frigoríficos brasileiros ganhou destaque após a decisão do CEO global da gigante varejista, Alexandre Bompard, de suspender a comercialização de carne proveniente do Mercosul nas lojas da França. O posicionamento, publicado nas redes sociais em 20 de novembro, foi uma resposta às pressões dos agricultores franceses contra o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, visto como ameaça à competitividade dos produtos agrícolas europeus.
No dia seguinte, frigoríficos brasileiros como JBS, Marfrig e Masterboi anunciaram a interrupção imediata do fornecimento de carne ao Carrefour no Brasil, em repúdio à decisão da empresa. Caminhões com mercadorias foram recolhidos antes de chegar às lojas.
Impacto no Brasil e reação do governo
Embora o Carrefour tenha esclarecido que a restrição se aplica apenas à França, a reação dos frigoríficos foi contundente. Em nota, o Carrefour Brasil lamentou o impacto da suspensão para seus clientes e reforçou sua confiança no setor agropecuário brasileiro.
O Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, apoiou a decisão dos frigoríficos brasileiros, afirmando estar “feliz” com a atitude de proteção ao setor nacional.
Entidades como a Federação das Associações Rurais do Mercosul (Farm) também condenaram a posição do Carrefour, considerando-a protecionista e injusta, e ressaltaram os altos padrões de sustentabilidade da produção no bloco.
A relevância da França no mercado brasileiro
Apesar do impacto simbólico, os dados mostram que a França não é um dos principais destinos da carne bovina brasileira. Em 2023, apenas 0,66% das exportações para a União Europeia foram destinadas ao país, sendo a China o maior comprador global, responsável por 52,22% do volume exportado.
Contexto maior: acordo Mercosul-União Europeia
O episódio ocorre em meio a debates sobre o acordo comercial entre os blocos, negociado há mais de 20 anos. O tratado visa eliminar tarifas e aumentar a competitividade, mas enfrenta resistência de países europeus, especialmente a França, que teme a concorrência de produtos sul-americanos mais baratos.
Com a cúpula do Mercosul marcada para dezembro, onde o Brasil espera avanços no acordo, o imbróglio entre Carrefour e os frigoríficos brasileiros ressalta os desafios nas relações comerciais entre os blocos e a sensibilidade das questões agrícolas no cenário global.