
Um estudo recente solicitado pelo senador Omar Aziz (PSD-AM) ao Banco Central revelou dados alarmantes sobre o impacto das apostas online no Brasil, especialmente entre as famílias mais vulneráveis.
Segundo o levantamento, os apostadores brasileiros gastaram entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões por mês com apostas esportivas e jogos de azar eletrônicos, entre janeiro e agosto de 2024.
O senador já solicitou à Procuradoria-Geral da República (PGR) que peça ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão dessas plataformas até que a regulamentação do setor seja concluída.
De acordo com os dados, apenas no mês de agosto, o valor apostado chegou a R$ 20,8 bilhões, um montante mais de dez vezes superior à arrecadação total das loterias oficiais da Caixa Econômica Federal, que foi de R$ 1,9 bilhão no mesmo período.
O impacto nas famílias mais vulneráveis
O estudo destacou que cerca de 24 milhões de brasileiros participaram de jogos de azar, realizando ao menos uma transferência via Pix para essas empresas.
O relatório também revelou que, entre os apostadores, cerca de 5 milhões de pessoas pertenciam a famílias beneficiárias do programa Bolsa Família, enviando R$ 3 bilhões para as empresas de apostas em agosto.
A mediana dos valores apostados por esses beneficiários foi de R$ 100, sendo que 70% dos apostadores eram chefes de família.
O senador Omar Aziz expressou preocupação com o endividamento crescente dessas famílias, muitas das quais utilizam recursos de programas sociais para apostar.
Ele também criticou a influência de celebridades e influenciadores digitais, que incentivam o público mais humilde a participar dessas apostas.
“Apenas 0,8% do dinheiro apostado retorna aos apostadores, enquanto 99,2% fica com as casas de apostas. Ver pessoas humildes sendo influenciadas por ídolos e influencers é preocupante. Isso é semelhante ao que acontece com o tráfico de drogas, quando jovens são induzidos ao vício”, afirmou o senador.
Aumento das apostas e preocupações com inadimplência
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também manifestou preocupação com o crescimento exponencial das apostas online e seus efeitos na economia.
Segundo ele, as transferências via Pix para apostas cresceram 200% desde janeiro de 2024. “A correlação entre a população de baixa renda e o aumento das apostas é evidente. Isso pode impactar diretamente na inadimplência e comprometer a qualidade do crédito no país”, disse Campos Neto durante um evento em São Paulo.
Medidas governamentais
Em resposta ao aumento das apostas, o Ministério da Fazenda anunciou na semana passada que as plataformas de apostas que não pedirem autorização para operar até o dia 30 de setembro terão suas atividades suspensas.
O ministro Fernando Haddad destacou que o Brasil enfrenta uma “pandemia de apostas online”, o que reforça a necessidade urgente de regulamentação do setor. “A regulamentação é essencial para proteger a população e tratar o jogo como entretenimento, combatendo a dependência”, declarou Haddad.
A Operação de regulamentação, batizada de “Integration”, investiga, além dos jogos de azar, um esquema de lavagem de dinheiro que envolve apostas ilegais.
No total, já foram bloqueados R$ 2 bilhões de contas de empresas e indivíduos ligados ao setor.
A decisão sobre a suspensão das plataformas de apostas agora depende do STF, que avaliará o pedido feito pela PGR com base no relatório do Banco Central e na solicitação do senador Omar Aziz.
A expectativa é de que as discussões sobre a regulamentação do setor se intensifiquem nas próximas semanas, especialmente devido ao impacto socioeconômico gerado pelo aumento das apostas no país.